26 de setembro de 2014

as memórias que não me pertencem


Muitas vezes, questiono-me sobre o porque de ter escolhido o retrato fotográfico como objeto de estudos. Que encanto é esse que vejo nas imagens de pessoas que para mim são ilustres desconhecidas, anônimos que para alguém são avós, mães, tios, sobrinhos ou irmãos? 

O nó dado no tempo e no espaço e congelado numa foto foi um momento de uma vida vulgar, que por algum motivo mereceu ser registrado. E eu, diante daquela memória que não me pertence, sinto-me alheia, porque pouco sei além daquilo que vejo, do que posso deduzir e ficcionalizar.

Depois de participar do Seminário Arte, Cultura e Fotografia, em São Paulo, as ressonâncias fizeram-me novamente me questionar sobre este encantamento. Fiquei pensando: será que olhar os retratos dos outros é uma maneira de suprir a falta dos meus? 

Sempre senti uma necessidade de ver a minha narrativa familiar, as minhas faces e fases da infância, as memórias visuais de tempos passados e de entes desconhecidos, mas queridos porque alguém teria uma bela história para contar sobre eles enquanto me mostrava um retrato… Mas, infelizmente, devido a tantas mudanças de lugar (casas, cidades, país e, principalmente, de mim), quase não tenho registros familiares e nem individuais mais antigos. 


Acho que tento reencontrar nas memórias visuais e afetividades dos outros, algo que em mim se perdeu ou nunca existiu. Mas se eu não tenho um álbum de retratos cheio de registros para preencher os vazios da minha memória e me ajudar a reconstruir as minhas narrativas de vida, eu tenho um vazio maior ainda por preencher como bem entender. 


17 de maio de 2014

tic-tac-tic-tac-tic-tac....

"Esse tic-tac dos relógios
é a máquina de costura do Tempo
a fabricar mortalhas"

Mário Quintana




Dos tempos em que o passatempo era ver a vida passar, aos tempos em que a vida passa sem a gente ver.


*Narrativa visual produzida em 2007 durante o mestrado em Cultura Visual | FAV - UFG.


14 de maio de 2014

era uma vez!

Ilustração de Gustavo Aimar

Era uma vez um menino chamado Joãozinho.
Agora se chama Maria.

Era uma vez um pato aqui e acolá.
Foi parar na panela.

Era uma vez um bom velhinho.
Ficou ranzinza porque nunca conseguiu se aposentar.

Era uma vez um boneco de madeira com nariz muito grande.
Num inverno rigoroso, virou lenha.

Era uma vez um gato de botas.
Trocou-as por chinelos confortáveis.

Era uma vez um coelho que usava colete.
Não resistiu aos ferimentos quando uma menina caiu em sua toca.

Era uma vez uma menininha.
Agora tem 86 anos.

Era uma vez é passado.



23 de abril de 2014

goiânia é um ovo! um elogio à cidade


Parque Vaca Brava

Com tantos caracteres obrigatoriamente contados para escrever hoje, dei-me ao luxo de sair da rota e escrever uns tantos sobre Goiânia. Tudo por causa de um post que uma amiga bracarense, a Olga, partilhou comigo hoje no Facebook. E agradeço, pois comecei a pensar na minha cidade do coração e nas coisas que sei e que gosto de lá. 

Não nasci em Goiânia, mas considero que lá plantei as minhas raízes. A minha mãe, irmãs, sobrinhos, os grandes amigos e boa parte das minhas melhores memórias estão lá.

Goiânia é um ovo. Sim. Mas cheio de surpresas! E é jovem, e tem muito potencial para crescer do jeito certo. É uma cidade com uma população de quase 3 milhões de habitantes em sua região metropolitana. É uma cidade bonita, cheia de parques e áreas verdes em meio a torres gigantescas de prédios, e um centro povoado por belas construções em Art Decó, ainda que desgraçadamente mal preservadas!

Teatro Goiânia

Sim, Goiânia é uma cidade bonita. Adoro andar pelo centro, adoro andar pela Alameda das Rosas, onde mora a minha mãe, ou perto do Parque Areião, onde vive uma das minhas irmãs. Adoro ir ao Centro Cultural Martim Cererê e ficar à sombra das mangueiras, ir à Praça do Sol e sentar na grama num domingo à tarde, comendo tortas deliciosas, vendo os punks se reunirem por ali, e os adolescentes fecharem as suas rodinhas de violão, onde ainda se ouve tocar Legião Urbana, ou alguém gritando "toca Raul"… 

Amo o pão francês quentinho da Super Pão da Rua 9, no Setor Oeste. Adoro os picolés de frutos do cerrado. Adoro sentir o cheiro rústico do Mercado Municipal, no centro. Adoro andar pelas ruas próximas ao Lyceu, entrar nas lojas de livros e discos usados, ver as banquinhas de frutas nas ruas do centro com goiabas fresquinhas, ir à Hocus Pocus (ainda existe?). Gosto de comer um espetinho num barzinho qualquer da cidade, no fim do domingo, com uma cerveja gelada, geralmente acompanhada por boa música ao vivo, para encorajar o começo do semana... Ou comer um pastel-travesseiro de queijo no bar Vai tomar no Kuka. 

Mas detesto outras tantas coisas… Detesto o trânsito, a falta de educação, o lixo nas ruas, a corrupção, a violência, o calor seco de julho e agosto, e o provincianismo de muita gente. Sobretudo, detesto a necessidade de ostentar, tão presente na mentalidade de muitos goianienses. Algo como... quanto maior o meu carro, mais respeito eu "mereço", mais dono da rua eu sou! Mas disto, nem quero falar. Quero falar dos motivos que me fazem ter orgulho de Goiânia.

Goiânia tem um campus da Universidade Federal num lugar lindíssimo, onde me orgulho de ter estudado, perto de uma reserva ambiental, onde há macaquinhos que batem nas janelas das salas, interrompendo a aula... Sim, é verdade! E os meus grandes amigos encontrei lá, naquele campus. E não, não são macacos.

Goiânia é rock'n'roll!
Em Goiânia há grandes festivais de música alternativa, como o Goiânia Noise, o Bananada, o Vaca Amarela, e o Grito Rock Goiânia. É, a cidade tem uma cena underground linda de se ver, e que não começou ontem! Na década de 1970, já tinha gente boa fazendo rock por lá.

Ah, tem a Monstro Discos, que dá consistência a este movimento! E sabe a banda Black Drawing Chalks, pois é, é de Goiânia. E também tem gente especial fazendo samba, MPB, e outras coisas experimentais, como a banda Pequi, da Escola de Música da UFG. Em Goiânia também estão muitos dos grandes tatuadores do Brasil, e até do mundo (se quiser fazer uma boa tatuagem, vá à Goiânia!).





Em Goiânia tem gente para frente, criativa, talentosa e engajada, que quer fazer coisas boas, diferentes, que vai correr o mundo, mas não deixa de ser goianiense, e depois volta, nem que seja para visitar, mas leva coisas do mundo para lá e deixa a cidade mais rica.

Orgulho-me de saber que a Nitrocorpz é de Goiânia, que o Bicicleta sem Freio, e o Grupo EmpreZa também, e que em Goiânia há um festival de cinema maravilhoso, chamado "O amor, a morte e as paixões", sempre na época do carnaval, e o Goiânia Mostra Curtas, já tradicional! Ah, e o FICA - Festival Internacional de Cinema Ambiental é em Goiás Velho, antiga capital do estado, pertinho de Goiânia. E tem também o Centro Cultural Oscar Niemeyer, uma das mais recentes obras deste arquiteto mundialmente reconhecido, além do Centro Cultural Goiânia Ouro, e do Cine Cultura, que fica no ponto mais central da cidade e exibe filmes que estão fora do circuito mainstream.

Centro Cultural Oscar Niemeyer

E em Goiânia tem artistas plásticos talentosos como o Siron Franco ou a fantástica Ana Maria Pacheco. E, claro, o Antônio Poteiro, que não nasceu em Goiânia (nasceu no Minho, em Portugal, há!), mas viveu na cidade desde criança e fez a sua arte crescer lá. É, e em Goiânia tem arte de rua também... E tem gente tão talentosa e inteligente, que poderia estar em qualquer lugar do mundo que continuaria sendo talentosa e inteligente!
 

Arte Urbana, Rua 142, Setor Sul
Por isso, não posso deixar de falar da minha amiga Lisa, que fica indignada sempre que cita a passagem de Lévi-Strauss por Goiânia, ainda na época da sua construção, em 1937, quando o antropólogo, perturbado com a ideia de se fundar uma cidade no meio de um deserto "cerrado", mostra-se incrédulo com a possibilidade de que algo ou alguém pudesse crescer e sobreviver ali. Pois é, Lévi-Strauss estava errado, como diz a Lisa! Goiânia vive. E ainda é jovem, e tem muita história para viver pela frente. E quem faz a história de um lugar são as pessoas. As pessoas podem fazer de Goiânia uma cidade melhor ou pior.

Enfim, Goiânia tem coisas demais para ser um ovo. Mas é um ovo. Um ovo de ouro. Atualmente, não moro em Goiânia, mas morei numa época muito importante da minha vida, e aproveitei muito bem a cidade!

Amigos de Goiânia, sei que estou me esquecendo de muitas coisas! Ajudem-me a lembrar, afinal, recordar é viver :)

PS.: Ah, lembrei-me de outra... um dos maiores médicos especialistas do mundo em cirurgia de separação de gêmeos siameses é de Goiânia ehehehe.

28 de março de 2014

19 de março de 2014

desapego tecnológico




Finalmente troquei o velho Nokia de anos e anos e anos, daqueles que só fazem e recebem chamadas e mensagens, por um "smartphone". 

Mas confesso: tenho medo de me tornar aquele tipo de pessoa que "saca" o pequeno apêndice cerebral do bolso a toda hora e a todo momento, para tudo e para nada... Ou deixar calados os amigos que estão à minha frente no café, porque estou trocando mensagens transatlânticas... Ou começar a tirar fotos do que vou comer, e até do que já comi.Por precaução, guardei o velho Nokia para o caso dos sintomas começarem a aparecer. 

Ora, afinal, a vida é o que está acontecendo à nossa volta enquanto estamos olhando para o smartphone! Ou não.




14 de fevereiro de 2014

amour




Amour, Amor, Amore, Love, Dragoste, Miłość, ...

Amor é palavra, é conceito, e é, principalmente, sentimento.

O amor palavra é um vocábulo, uma combinação de letras e sons.

O amor conceito é uma ideia daquilo que nós "universalmente" entendemos ser esta "coisa abstrata" (como diz Santo Agostinho sobre o tempo: "Se ninguém me perguntar, eu sei o que é. Mas se me perguntam, já não sei explicar...").

O amor sentimento é o modo como nós, em nossa idiossincrasia, vivemos o vocábulo e o conceito na pele e na alma.

Seja em italiano, português, inglês, romeno, russo, latim, checo, polaco… o amor é a mesma confusão, falado e escrito de maneiras diferentes, e sentido de um modo muito singular por cada pessoa.

Por isso, o problema do amor é muito maior do que uma questão de semântica. Mas ainda assim, gosto muito do trecho abaixo, com açúcar e com afeto.


1 de janeiro de 2014

o que será, será!


O que será 2014? Que sejam 365 dias relevantes, mesmo que embaciados pela rotina, pelo trabalho e pelo cansaço. Que sejam dias de paz interior, força, e felicidades. 

E que os desejos de todos se realizem... But the future`s not ours to see...