23 de abril de 2014

goiânia é um ovo! um elogio à cidade


Parque Vaca Brava

Com tantos caracteres obrigatoriamente contados para escrever hoje, dei-me ao luxo de sair da rota e escrever uns tantos sobre Goiânia. Tudo por causa de um post que uma amiga bracarense, a Olga, partilhou comigo hoje no Facebook. E agradeço, pois comecei a pensar na minha cidade do coração e nas coisas que sei e que gosto de lá. 

Não nasci em Goiânia, mas considero que lá plantei as minhas raízes. A minha mãe, irmãs, sobrinhos, os grandes amigos e boa parte das minhas melhores memórias estão lá.

Goiânia é um ovo. Sim. Mas cheio de surpresas! E é jovem, e tem muito potencial para crescer do jeito certo. É uma cidade com uma população de quase 3 milhões de habitantes em sua região metropolitana. É uma cidade bonita, cheia de parques e áreas verdes em meio a torres gigantescas de prédios, e um centro povoado por belas construções em Art Decó, ainda que desgraçadamente mal preservadas!

Teatro Goiânia

Sim, Goiânia é uma cidade bonita. Adoro andar pelo centro, adoro andar pela Alameda das Rosas, onde mora a minha mãe, ou perto do Parque Areião, onde vive uma das minhas irmãs. Adoro ir ao Centro Cultural Martim Cererê e ficar à sombra das mangueiras, ir à Praça do Sol e sentar na grama num domingo à tarde, comendo tortas deliciosas, vendo os punks se reunirem por ali, e os adolescentes fecharem as suas rodinhas de violão, onde ainda se ouve tocar Legião Urbana, ou alguém gritando "toca Raul"… 

Amo o pão francês quentinho da Super Pão da Rua 9, no Setor Oeste. Adoro os picolés de frutos do cerrado. Adoro sentir o cheiro rústico do Mercado Municipal, no centro. Adoro andar pelas ruas próximas ao Lyceu, entrar nas lojas de livros e discos usados, ver as banquinhas de frutas nas ruas do centro com goiabas fresquinhas, ir à Hocus Pocus (ainda existe?). Gosto de comer um espetinho num barzinho qualquer da cidade, no fim do domingo, com uma cerveja gelada, geralmente acompanhada por boa música ao vivo, para encorajar o começo do semana... Ou comer um pastel-travesseiro de queijo no bar Vai tomar no Kuka. 

Mas detesto outras tantas coisas… Detesto o trânsito, a falta de educação, o lixo nas ruas, a corrupção, a violência, o calor seco de julho e agosto, e o provincianismo de muita gente. Sobretudo, detesto a necessidade de ostentar, tão presente na mentalidade de muitos goianienses. Algo como... quanto maior o meu carro, mais respeito eu "mereço", mais dono da rua eu sou! Mas disto, nem quero falar. Quero falar dos motivos que me fazem ter orgulho de Goiânia.

Goiânia tem um campus da Universidade Federal num lugar lindíssimo, onde me orgulho de ter estudado, perto de uma reserva ambiental, onde há macaquinhos que batem nas janelas das salas, interrompendo a aula... Sim, é verdade! E os meus grandes amigos encontrei lá, naquele campus. E não, não são macacos.

Goiânia é rock'n'roll!
Em Goiânia há grandes festivais de música alternativa, como o Goiânia Noise, o Bananada, o Vaca Amarela, e o Grito Rock Goiânia. É, a cidade tem uma cena underground linda de se ver, e que não começou ontem! Na década de 1970, já tinha gente boa fazendo rock por lá.

Ah, tem a Monstro Discos, que dá consistência a este movimento! E sabe a banda Black Drawing Chalks, pois é, é de Goiânia. E também tem gente especial fazendo samba, MPB, e outras coisas experimentais, como a banda Pequi, da Escola de Música da UFG. Em Goiânia também estão muitos dos grandes tatuadores do Brasil, e até do mundo (se quiser fazer uma boa tatuagem, vá à Goiânia!).





Em Goiânia tem gente para frente, criativa, talentosa e engajada, que quer fazer coisas boas, diferentes, que vai correr o mundo, mas não deixa de ser goianiense, e depois volta, nem que seja para visitar, mas leva coisas do mundo para lá e deixa a cidade mais rica.

Orgulho-me de saber que a Nitrocorpz é de Goiânia, que o Bicicleta sem Freio, e o Grupo EmpreZa também, e que em Goiânia há um festival de cinema maravilhoso, chamado "O amor, a morte e as paixões", sempre na época do carnaval, e o Goiânia Mostra Curtas, já tradicional! Ah, e o FICA - Festival Internacional de Cinema Ambiental é em Goiás Velho, antiga capital do estado, pertinho de Goiânia. E tem também o Centro Cultural Oscar Niemeyer, uma das mais recentes obras deste arquiteto mundialmente reconhecido, além do Centro Cultural Goiânia Ouro, e do Cine Cultura, que fica no ponto mais central da cidade e exibe filmes que estão fora do circuito mainstream.

Centro Cultural Oscar Niemeyer

E em Goiânia tem artistas plásticos talentosos como o Siron Franco ou a fantástica Ana Maria Pacheco. E, claro, o Antônio Poteiro, que não nasceu em Goiânia (nasceu no Minho, em Portugal, há!), mas viveu na cidade desde criança e fez a sua arte crescer lá. É, e em Goiânia tem arte de rua também... E tem gente tão talentosa e inteligente, que poderia estar em qualquer lugar do mundo que continuaria sendo talentosa e inteligente!
 

Arte Urbana, Rua 142, Setor Sul
Por isso, não posso deixar de falar da minha amiga Lisa, que fica indignada sempre que cita a passagem de Lévi-Strauss por Goiânia, ainda na época da sua construção, em 1937, quando o antropólogo, perturbado com a ideia de se fundar uma cidade no meio de um deserto "cerrado", mostra-se incrédulo com a possibilidade de que algo ou alguém pudesse crescer e sobreviver ali. Pois é, Lévi-Strauss estava errado, como diz a Lisa! Goiânia vive. E ainda é jovem, e tem muita história para viver pela frente. E quem faz a história de um lugar são as pessoas. As pessoas podem fazer de Goiânia uma cidade melhor ou pior.

Enfim, Goiânia tem coisas demais para ser um ovo. Mas é um ovo. Um ovo de ouro. Atualmente, não moro em Goiânia, mas morei numa época muito importante da minha vida, e aproveitei muito bem a cidade!

Amigos de Goiânia, sei que estou me esquecendo de muitas coisas! Ajudem-me a lembrar, afinal, recordar é viver :)

PS.: Ah, lembrei-me de outra... um dos maiores médicos especialistas do mundo em cirurgia de separação de gêmeos siameses é de Goiânia ehehehe.

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