26 de março de 2013

apague os rastros

Bertold Brecht | In. Cartilha para os citadinos


Separe-se de seus amigos na estação
De manhã vá à cidade com o casaco abotoado
Procure alojamento, e quando seu camarada bater:
Não, oh, não abra a porta
Mas sim
Apague os rastros!

Se encontrar seus pais na cidade de Hamburgo ou em outro lugar
Passe por eles como um estranho, vire na esquina, não os reconheça
Abaixe sobre o rosto o chapéu que eles lhe deram
Não, oh, não mostre seu rosto
Mas sim
Apague os rastros!

Coma a carne que aí está. Não poupe.
Entre em qualquer casa quando chover, sente em qualquer cadeira
Mas não permaneça sentado. E não esqueça seu chapéu.
Estou lhe dizendo:
Apague os rastros!

O que você disser, não diga duas vezes.
Encontrando o seu pensamento em outra pessoa: negue-o.
Quem não escreveu sua assinatura, quem não deixou retrato
Quem não estava presente, quem nada falou
Como poderão apanhá-lo?
Apague os rastros!

Cuide, quando pensar em morrer
Para que não haja sepultura revelando onde jaz
Com uma clara inscrição a lhe denunciar
E o ano de sua morte a lhe entregar
Mais uma vez:
Apague os rastros!

(Assim me foi ensinado.)



Foto: Aline Soares, 2011
do alto da Arena Monumental de Barcelona




22 de março de 2013

collage: cut, copy and paste

A collage, que passou a ser amplamente empregada como técnica artística no começo do século XX, é um método de composição ainda corrente e que ganhou, com as tecnologias digitais, novas ferramentas. A colagem digital é feita a partir do computador e do uso de softwares de manipulação de imagens. Contudo, a essência da técnica mantém-se basicamente a mesma, e consiste na utilização de imagens pré-existentes para a concepção de uma obra original. Esta técnica alterou o cenário das artes na medida em que representou uma ruptura entre arte e vida cotidiana, incorporando, com sobreposições ou justaposições, elementos visuais heterogêneos e objetos não artísticos de proveniências distintas. 

"Natureza morta com cadeira de palha", 1912, Pablo Picasso 

Os primeiros usos da colagem na arte moderna foram empreendidos pelos artistas que exploravam o cubismo, dando origem a novas composições estéticas que ultrapassavam a bidimensionalidade do suporte da obra. 
A colagem como técnica ganhou projeção com a Pop Art, que desestabilizou o universo das artes incoporando elementos visuais dos mass media na produção artística. Tanto que quando pensamos em colagem, temos como marco fortuito a obra do inglês Richard Hamilton “Just what is it makes today’s ours homes so different, so appealing?”    de 1956.

“Just what is it makes today’s ours homes so different, so appealing?”
1956, Richard Hamilton




sem razão


colagem digital © Aline Soares


o meu coração saltou para fora do peito
ando a tentar segurá-lo
tenho-o nas mãos como numa bandeja,
desquilibro-me e ele escapa
depois o agarro com uma mão,
agarro-o com as duas...
mas ele soluça,
e pulsa, e escorrega, e foge, e ameaça: 
só vai parar de fugir, quando parar de bater

... deixa estar, já fiz das tripas outro coração!

***


Sem razão II



colagem digital © Aline Soares


Tenho o coração na boca: 
ou mastigo e engulo,
ou vomito.