Eu sou melhor que você | Moreno Veloso
Todo
mundo acha que pode, acha que é pop, acha que é poeta.
Todo mundo tem razão e
vence sempre na hora certa.
Todo mundo prova sempre pra si mesmo que não há
derrota.
Todo homem tem voz grossa e tem pau grande.
E é maior do que o meu, do
que o seu, do que o do Pedro Sá
. Todo mundo é referência e se compara só pra ver
que é melhor.
Todo mundo é mais bonito do que eu, mas eu sou mais que todos.
Todo
mundo tem suingue, é feliz, é forte e sabe sambar.
Todos querem mas não podem
admitir a coexistência do orgulho e do amor porque:
Eu sou melhor que você. Boa
viagem.
Eu sou melhor que você, mas por favor fique comigo que eu não tenho mais
ninguém.
Todo mundo diz que sabe, e quando diz que não sabe é porque
é charmoso
não saber algo que todas as pessoas já sabem como é.
Todo mundo é especial, é
original, é o que todos queriam ser.
Não basta ser inteligente, tem que ser
mais do que o outro pra ele te reconhecer.
Todo mundo ganha grana pra dizer que
ela não vale nada.
Todo mundo diz que é contra a violência e sempre dá porrada.
Todos
querem se apaixonar sem se arriscar, nem se expor e nem sofrer.
Todas querem
vida fácil sem ser puta e com reputação. Se reprimem e começam a dizer:
Eu sou
melhor que você.
Eu sou melhor que você, mas por favor fique comigo que eu não
tenho mais ninguém!
Cinema Americano | Thaís Gulin
Tão homem tão bruto tão coca-cola nego tão rockn'roll. Tão bomba atômica tão amedrontado tão burro tão desesperado. Tão raiva tão guerra tanto comando e adeus. Tão jeans tão centro tão cabeceira tão Deus. Tão indústria tão nosso tão falso tão Papai Noel. Tão Oscar tão triste tão chato tão homem Nobel. Tão hot dog tão câncer social tão narciso. Tão quadrado tão fundamental. Tão bom tão lindo tão livre tão Nova York. Tão grana tão macho tão western tão Ibope. Racistas paternalistas acionistas. Prefiro os nossos sambistas. A ponte de safena Hollywood e o sucesso. O cinema a Casa Branca a frigideira e o sucesso. A Barra da Tijuca Hollywood e o sucesso. Prefiro os nossos sambistas. Prefiro o poeta pálido anti-homem que ri e que chora. Que lê Rimbaud, Verlaine, que é frágil e que te adora. Que entende o triunfo da poesia sobre o futebol. Mas que joga sua pelada todo domingo debaixo do sol. Prefere ao invés de Slayer ouvir Caetano ouvir Mano Chao. Não que Slayer não seja legal e visceral. A expressão do desespero do macho americano é normal. É preciso mais que um soco pra se fazer um som um homem um filme. Esse medo da face fêmea dita por Cristo é natural. É preciso seu amor seu feminino seu suíngue. Pra ser bom de cama é preciso muito mais do que um pau grande. É preciso ser macho ser fêmea ser elegante. Prefiro os nossos sambistas.