9 de novembro de 2011

O fabuloso Photomaton


«Attention, le petit oiseau va sortir!»


De uma cabine fotográfica onde o retratado insere uma moeda e recebe automaticamente os seus retratos, nasce o Photomaton, um mecanismo fotográfico simples, barato, confiável e sem qualquer pretensão estética.
Retrato que tem como foco o rosto, o Photomaton logo criou um tipo de representação que se tornou padrão para as fotografias de identificação.
Esta adorável cabine fotográfica, que já fez sucesso no cinema em O fabuloso destino de Amélie Poulain, foi desenvolvido em Nova Iorque em 1926, e até hoje mantém o seu charme com uma tendência estética vintage.


O Photomaton representa um importante marco para a história do retrato fotográfico, pois assinala a popularização vindoura dos dispositivos fotográficos automáticos. Com o Photomaton, o retrato inaugura um novo regime do olhar, libertando o retratado do olhar assimétrico do fotógrafo. Dentro da cabine, o indivíduo está isolado e tem, por isso, privacidade para ignorar inclusive as instruções da máquina em relação à pose (Attention! Tournez la tetê à droite, fixez la croix au-dessus du miroir... et souriez!), e se colocar ante a objetiva como bem entender. 
Nos retratos Photomaton, geralmente tirados sozinho ou em dupla, figuram indivíduos que se expressam mais à vontade diante do dispositivo fotográfico, menos rígidos em relação à pose, à vestimenta, à gestualidade. Da mesma forma, o interior da estreita cabine e o seu fundo monocromático aliviam a carga social que tinha o estúdio e o ato de tomada da foto - como nos tempos do carte de visite, por exemplo.
Nesse momento, o retrato se aproxima ainda mais da idéia de auto-retrato, pois livre do olhar do fotógrafo, cabe tão somente ao indivíduo, em sua idiossincrasia, constituir uma auto-representação diante da objetiva.
As possibilidades criativas despertadas dentro desta cabine, que tem inegavelmente qualquer coisa de mágico, também foram celebradas por muitas artistas, como André BretonEm 2011, Raynal Pellicer lançou um livro* que conta a história do Photomaton e aborda os seus usos sociais, inclusive no campo da arte contemporânea.
E para quem ficou com vontade de se aventurar dentro de uma destas cabines, eis aqui uma graciosa versão digital: photocabine.com

E, é claro, há também quem guarde os seus traumas destes autômatos...



*Pellicer, Raynal (2011) Photomaton. Paris: Édtitions La Martinière.






1 comentário:

catarina wheelhouse disse...

Felizmente que o passarinho já se soltou e podemos ter o prazer de ler as tuas palavras!
Só falta uma coisa: activar o news feed!
;-)